Quem não sabe das mortes de LGBT no Brasil é você, Marco Pigossi

Famoso repete que País é o que mais mata o segmento no mundo, mas não há estudo que diga isso

Publicado em 02/05/2025
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Quem disse que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade não é alguém a ser seguido

Editorial

"O gringo não tem ideia que o Brasil é o país que mais mata LGBT", você, Marco Pigossi, disse ao jornalista Ricky Hiraoka, do UOL.

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Lê-se sobre sua vida e de sua atual missão: ator gay, mora nos EUA, é casado com um cineasta italiano, e é muito engajado na causa arco-íris.

Em primeiro lugar, parabéns por se determinar a contribuir para a cidadania LGBT. Em segundo lugar, uma fala necessária: Pigossi, quem não tem ideia dos assassinatos de LGBT no Brasil é você!

É potente o uso de sua arte para dar visibilidade a vivências da comunidade. Aí, cita-se o recém-lançado filme ficcional "Maré Alta", o qual produziu e em que interpreta um brasileiro que vive nos EUA e passa por desafios de várias ordens, inclusive amorosas e sexuais. 

E não basta! Que bom! Atualmente, informa, dedica-se a produzir documentário sobre refugiados LGBT no Brasil. 

Entretanto, caro, essa sua caminhada, inclusive ao produzir um documentário e ser fonte referencial para estrangeiros e até brasileiros sobre a realidade de LGBT, precisa dela, a realidade! 

Bem-vindo ao mundo não das emoções (localizadas, pessoais, íntimas), mas dos dados (gerais, não-humanizados, públicos). E aqui, é preciso ter responsabilidade no que propaga. 

Se se pudesse resumir a atuação em um verbo, por que não seria expressar? E sem mais debates! 

Entretanto, ao lidar com a realidade, material do jornalismo, da história, das ciências sociais, a conjugação precisa ser do questionar! 

"O Brasil é o que mais mata LGBT no mundo". Quem falou? Com que base? Qual foi a pesquisa? Quando foi feita? Quais as fontes desse levantamento? Mundial... mesmo? Quadro comparativo de quase 200 países? Você o leu? 

Assassinatos? O tal estudo elenca motivação? Se sim, como ele chega a qualquer conclusão? Se não... Ele continua válido como indicador de intolerância social? 

Existem outros pareceres científicos que atestam tais dados? Que os contestam? Que os relativizam? Que os invalidam? 

Sim, Pigossi, não se pode, tanto por tudo o que você acredita como valor humano quanto por sua posição, ainda mais agora querendo mostrar realidades, apenas repetir o que leu solto por aí.

"Ah, mas já vi tantas vezes isso!", pode ser a primeira defesa. Quem disse que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade não é alguém a ser seguido. 

O fato - esse ente que corta - é que nunca houve na história da humanidade um estudo que pudesse dar base cientifíca para afirmar que o Brasil é o que mais mata LGBT no mundo, Pigossi. 

Na mesma reportagem citada acima, você diz: "É muito louco pensar que o país que mais comete crimes de ódio contra nossa comunidade é também o lugar que tem uma legislação superavançada para acolher imigrantes LGBTQIPNA+ que sofrem algum tipo de perseguição em seus locais de origem."

Sabe o que lhe dá chão firme para a segunda parte da sua frase? Estudos na ONU, levantamentos de Direito Comparado! 

Ranking mundial sobre LGBT... Sabe talvez um dos poucos existentes até 2025 na face da Terra? É da maior entidade arco-íris do planeta, a ILGA. 

E sabe o que ele diz? Ainda a versão de 2017 do pormenorizado estudo afirmava que o Brasil era então o segundo do mundo com mais direitos para LGBT. 

Aqui está o link que leva a ele. 

E desde então, o Brasil avançou ainda mais! E são tantos outros exemplos que tornam o Brasil um dos mais avançados do mundo em direitos e cidadania LGBT!

Ser o primeiro país do planeta a proibir a cura gay e ter essa nação despatologizado a homossexualidade cinco anos antes da OMS tê-lo feito são fatos, por exemplo.

Nada de negar o quanto há violência contra LGBT no Brasil. Ninguém aqui diz o contrário. Entretanto, entre tal constatação e a sua afirmação endossadora, há um abismo, Pigossi. Vazio de matéria... Cheio de mentira. Não se jogue nele! Nem arraste ninguém para aí! 

Ps.: um LGBT brasileiro possui muito, muito mais direitos do que um LGBT no país em que você escolheu morar, viu? Os gringos sabem disso? 


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