Nigéria: homofóbicos marcam encontros com gays para espancá-los

No país africano, gays são alvo de armadilhas e sofrem chantagem, tortura e até morte

Publicado em 22/05/2023
Kito: gays são torturados e chantageados na Nigéria
Uma das vítimas deu entrevista à BBC com a cabeça coberta

A prática de chantagem, tortura e até assassinato de gays na Nigéria continua em alta, denuncia reportagem do canal britânico BBC.

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A tática mais comum dos chantagistas é se passar por gay, marcar encontro com algum homem gay ou bissexual, e, já no local, abrir a porta para outros homens que fazem parte da gangue.

Segundo o programa Africa Eye, gays sofrem com isso há muitos anos no país africano, mas as chantagens se tornaram mais comuns após 2014, quando a Nigéria aprovou mais leis contra homossexuais. 

Desde então, qualquer demonstração pública de afeto entre dois homens ou duas mulheres pode levar a prisão por 10 anos. A mesma pena vale para quem participar de qualquer organização gay (de boates a entidades), que são proibidas.

Fazer uma cerimônia, ainda que simbólica, de união homossexual resulta em cadeia por 14 anos. A pena de morte é legalizada em alguns Estados, mas raramente aplicada.

A prática de extorsão a gays é conhecida por "kito" - desconhece-se a origem da palavra.

Casado e pai de três filhos, Mohammed foi uma das vítimas. Ele conversava on-line há certo tempo com Jamal, em quem depositou confiança e já gostava.

No momento do encontro, assim que tirou a roupa para ir ao chuveiro, foi surpreendido por um grupo que entrou no local e passou a espancá-lo.

Mohammed foi filmado, pelado, implorando para que parassem de bater nele.

"Eu não podia acreditar que alguém em quem eu confiava pudesse chegar ao ponto de fazer isso comigo", disse, com o rosto coberto, ao programa.

Todos seus conhecidos viram o vídeo e ele pensou em suicídio. Uma ligação de um seus filhos, no entanto, o salvou.

"Meu filho me disse que ama o pai dele. Mesmo que o pai dele seja gay, ele não tem problema com isso. Ele me deu uma razão pela qual eu não deveria [me matar]", afirmou. Neste momento, Mohammed tirou o capuz branco que usou para falar com o programa para enxugar as lágrimas.

Todos os homens entrevistados pela reportagem tiveram suas vidas devastadas. Alguns foram expulsos de casa, outros perderam o emprego e muitos foram banidos do convívio com suas famílias e amigos. 

Abertamente lésbica, a cineasta nigeriana Uyaiedu Ikpe-Etim, disse que o "kito" está "desenfreado" e que boa parte da população do país vibra com as notícias homofóbicas.

"Todos os dias há uma história na internet. Às vezes, tem histórias em que a pessoa é linchada até a morte. E tem as reações dos outros nigerianos. É praticamente uma comemoração. 'Ótimo, que bom que mataram. Eles não deveriam ser autorizados a se assumir.' E simplesmente não há justiça", contou.

Há tentativas oficiais de coibir a prática de extorsão. O programa conversou com um oficial do Corpo de Segurança e Defesa Civil da Nigéria que trabalha em parceria com ativistas. Ele se passa por gay em bate-papo on-line para enganar os chantagistas e prendê-los.

"Para mim, não há ninguém que esteja acima da lei no país. A chantagem é um crime muito grave. É um crime muito grande", disse o oficial em condição de anonimato.

No entanto, como gays podem ser presos no país em virtude da legislação homofóbica, é quase impossível convencê-los a testemunhar contra os criminosos. O que significa que praticantes do "kito" raramente são processados.

 

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