Contra heteronormatividade, projeto 'Feminices' retrata 100 homens

Valeram poses e peças ditas femininas para questionar virilidade e objetificação da mulher

Publicado em 10/02/2016
feminices andre martins
Foto '33 - Rodrigo': "Gostosura é maior quando explodimos gêneros", diz Martins

Peludo, barba lenhador, pés rudes e batom! Ou calcinha! Ou meia-arrastão! Ou tudo isso! Foi para questionar definições rígidas de masculinidade que 100 homens posaram para o ator André Martins, radicado em São Paulo, dentro do projeto "Feminices - Gostosxs e Discretos". 

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Martins tem histórico em iniciativas artísticas com nus fora do padrão mais desejado pelas pessoas. O passo agora, como revela à Guiya Editora, é atormentar pensamentos que validam apenas a exposição de homens cisgêneros brancos, com músculos torneados e normatizados. Se você também quer brigar "pau a pau" contra esses conceitos, calcinha na mão - embora isso também seja um limitador, já reflete Martins! 

Qual o propósito maior do Feminices?
Fazer uma invasão de imagens nas redes sociais com base outros pontos de vista sobre sexualidade que não se limite a exposição do homem cis branco malhado que se comporta dentro dos padrões heteronormativos.

Porque a descrição do projeto trata de "gostosxs e discretos"?
O X é utilizado quando não queremos nos limitar em um só artigo (masculino e feminino) e a gostosura maior é quando explodimos com estas definições. O termo discreto é muito utilizado no meio gay para definir alguém que não tenha nenhum traço do feminino, ou melhor, pessoas que a todo custo não podem revelar o feminino que têm, pois todxs possuem um mundo de desenhos dentro de si. Estes retratados não podem ser considerados discretos, ainda bem, mas quis colocar na descrição como uma provocação. 

Os fotografados surgiram de onde? 
Quando um projeto de nu recebe críticas sobre a falta de pluralidade nos perfis dos retratados, muitos dão a réplica de que não existe esta diversidade pois os perfis que o procuram são muitos parecidos. Então temos de parar de fazer projetos preguiçosos onde só retratamos quem nos procura e ir atrás destes plurais.

Muitos não os procuram pois não se sentem confortáveis, pois o que é mostrado é mais do mesmo. Existem perfis que para o bem real de todos não devem mais ser fotografados. O que me interessa atualmente são aquelas pessoas e/ou aqueles lados que pouco aparecem.

feminices nu
Foto '54 - Flávio': "O machismo tem de ruir de vez", determina o artista

Porque a escolha de ser com celular?
Não sou fotógrafo, por isto a fotografia não é o meu foco. O que faço é apenas um registro de comportamento, e o celular facilita este trabalho. 

As peças que os fotografados usam eram deles próprios em muitos casos? E nos que não era, como conseguiam?
Tem retratado que tem, mas eu também possuo milhares de peças que empresto. Porém esta questão também já esta criando novos incômodos, pois a feminice não pode se limitar a uma calcinha e um par de saltos. Tentarei avançar nesta discussão. O machismo tem que ruir de vez!

No que diz respeito a homossexuais, o que a sociedade espera é justamente um gay afeminado. Um homossexual usar peças femininas no seu projeto tem poder de despertar que tipo de reflexões e em quem?
O objetivo é criar mais representatividade e brigar de pau a pau (e buceta) com esta profusão incansável de imagens do poder da virilidade. A sociedade espera realmente muita coisa da gente e isto vai nos sufocando e matando aos poucos. Quero abrir frestas para outros armários que ainda estamos dentro. 

A principio este seria um projeto voltado para debater a questão do "homem afeminado", mas com o início da pesquisa, vi que existe um nó muito maior. A objetificação da mulher entra neste jogo, é um terreno arenoso.  

Os heterossexuais que posaram para você, que tipo de pensamentos eles revelaram e o que os levaram a participar do projeto?
Liberdade e pouco medo. 

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As fotografias serão publicadas ao longo do ano na comunidade Feminices. Os cliques mais eróticos estarão no Tumblr do artista. 

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