Casal gay do RS vende tudo para viajar o mundo: é a Expedição Kombita

O brasileiro João Otávio e o uruguaio Jordy cruzarão o Brasil seis vezes e querem chegar ao Alasca

Publicado em 15/01/2018
Casal gay João Otávio e Jordy Ferreira viajarão o mundo a borda de uma Kombi: é a Expedição Kombita
Jordy e João Otávio ao lado da Kombi, que ainda ganhará identidade visual do projeto

Por Marcio Claesen

Sabe aquela vontade de se livrar do estresse e da rotina e jogar tudo para o alto? Muitos a têm e poucos a realizam. Dentre esses poucos, há dois recém-inclusos: o casal João Otávio e Jordy Ferreira, que passam a concretizar o projeto chamado Expedição Kombita.

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Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, João conta que esse pensamento era recorrente nos últimos tempos, mas só mesmo há pouco mais de um ano começou a se materializar. Natural de Jaguarão, cidade gaúcha de quase 30 mil habitantes e que faz fronteira com o Uruguai, o fotógrafo propôs ao então namorado, o turismólogo uruguaio Jordy, que eles levassem a ideia à prática.

"A gente mora em uma cidade pequena, que vive com base em muita futilidade, ostentação", revela. "O estresse era gigantesco. Eu tenho um estúdio fotográfico, o Jordy trabalha comigo, e nós pegamos 80% do mercado de eventos da cidade, com quatro ou cinco festas por semana, fora os book que fazíamos. Eu estava enlouquecendo, a ponto de tomar antidepressivo, remédio para dormir..."

Com uma busca no Google, os dois encontraram o casal Otaviano e Vanessa, do canal no YouTube Vivendo Mundo Afora, que há três anos desenvolveram o plano de rodar o mundo dentro de um carro. Muitas dicas e encorajamento depois, João e Jordy tomaram a decisão. "Eles nos falaram, 'cara, se nada der certo, o que mais pode acontecer? Começar tudo de novo!'. E aí foi o pontapé inicial".

E a família? "A princípio eles acharam que era uma loucura", explica. "A gente tem este trabalho estável, casa própria. E neste meio tempo o Jordy foi chamado, por meio de um concurso, para trabalhar no consulado do Uruguai, ou seja, um emprego muito bom, garantido, para dar expediente das 9h às 15h. Mas a gente explicou aos parentes que era um estilo de vida, o de viver com menos, mas viver mais, que tinha um próposito nisso para fazermos. Aí, há pouco tempo, a família começou a aceitar melhor a ideia."

João e Jordy, então, trocaram o Fiat Palio que possuíam por uma Kombi e venderam todos os item de dentro de casa. "Tudo mesmo, tapete, fogão, telefone sem fio, tudo, tudo. E fomos morar com a minha sogra para economizar dinheiro", diz.

Expedição Kombita: casal gay do Rio Grande do SulPedra no caminho
A facilidade não se repetiu, entretanto, quanto à Kombi, peça-chave que dá nome ao projeto. "Nós tivemos um problema pequeno no motor. Tivemos indicação de um mecânico que era muito barato. E passou um, dois, cinco, seis meses e nada! O cara só enrolava, pedia dinheiro para comprar mais peças e não entregava. Até que pedimos para ele devolver a Kombi do jeito que estava mesmo. Tudo isso nos atrasou."

O fotógrafo, então, precisou contratar um guincho para levar o motor desmontado para outro profissional e lá descobriu que o primeiro mecânico roubou peças do veículo. "Foi preciso fazermos uma rifa e um jantar para arrecadar os R$ 4 mil necessários. Quase desistimos do projeto. Ficamos tristes, a previsão era termos saído em janeiro, mas conseguimos."

Durante toda a expectativa se teriam mesmo o veículo de novo ou não, João e Jordy, que estão juntos há três anos e meio, se casaram oficialmente, com direito à festa e juiz, em 3 de novembro passado.

Do Uruguai ao Alasca
Móveis vendidos, Kombi zerada, aliança no dedo. Qual o roteiro do pé na estrada? Cruzar o Brasil de Norte a Sul por três (sim, três!) vezes, a começar por subir pelo litoral e descer pelo interior. "Nossa ideia é explorar cidades não tão conhecidas do ponto de vista turístico, como a nossa, uma cidade pequena, muito linda, típica, que tem as portas mais lindas das cidades do Rio Grande do Sul e viver como locais".

Depois de cruzar o País, após a última descida para o Sul, o casal pretende, então, subir novamente, mas desta vez pelos países vizinhos, até atravessar todos e chegar às Américas Central e do Norte, até o Alasca. Nos Estados Unidos, país de dimensões continentais tal como o Brasil, a ideia é também cruzá-lo diversas vezes de Norte a Sul. E esta é só a primeira parte do projeto, que deverá durar cerca de seis anos! Em um segundo momento, quer-se levar a Kombi em conteiner e fazer o mesmo na Europa.

O fantasma da homofobia
Questionados se possuem algum medo, eles dizem que apenas um: o da homofobia. "É o único medo que nós temos", diz João. "Todo mundo pergunta se não temos receio de sermos assaltados e tal. A gente faz parte de grupos de viajantes, kombistas, mochileiros, motorhomes, enfim. Existem regras que ajudam na segurança, por exemplo, ninguém viaja de noite, quando está anoitecendo, a gente para e dorme em posto de gasolina. Agora, quanto à homofobia, nós ficamos muito apreensivos", conta.

O fotógrafo relata que uma prima designer fez todo o projeto visual da jornada e propôs explorar mais o fato de serem "o primeiro casal gay a viajar pelo mundo em uma Kombi", diz ele. "A princípio, ficamos arredios, com medo da homofobia nos lugares, mas agora a gente anda a fim de enfrentar mesmo e seja o que Deus quiser."

Como será a sobrevivência? "Nós temos o imóvel aqui, que é nosso, temos aluguel garantido e possuímos também uma casa em Florianópolis, que foi herança dos meus pais. Daí virão os recursos para comer, gasolina e estadia. E nossa ideia também não é ir para restaurantes chiques, fazer tours, nem nada. Vamos cozinhar na Kombi, por exemplo."

Patrocinadores, se aparecerem, também serão bem-vindos. Toda a experiência dos dois será contada em vídeos (dois por semana) no canal no YouTube que já está aberto. 

Projeto social
Ao chegar aos lugares, o casal pretende usar o talento em fotografia para ajudar as comunidades. Eles pretendem contatar as prefeituras locais e oferecer às pessoas carentes, em especial às meninas que sonham fazer books de debutantes, uma sessão fotográfica. Daí, aliás, se completa o nome do projeto. "A gente brinca que é Kombita, porque entra feia e sai bonita", diz João.

E não só: ele possuem projeto de audiovisual, no qual desejam produzir vídeos para mostrar aos locais suas próprias cidades e Estado e também outros pontos do País, tudo sem custos para a população.

Tudo pronto, as estradas os esperam a partir de meados de março. Enfim, mais arco-íris e alegria pelo mundo!

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